Parece que foi ontem.

Parece que foi ontem que te trouxe para casa. Eras tão pequenino e todo cinzento que fazias lembrar um ratinho. Decidi chamar-te Mickey.
Parece que foi ontem que te vi crescer.
Parece que foi ontem que fomos para a casa no Algarve e tu decidiste ir passear pelas açoteias e deitar-te junto ao pinheiro.
Parece que foi ontem que te deitaste junto ao meu peito a ronronar.
Parece que foi ontem que, noite após noite, me fizeste companhia quando eu tinha dores.
Parece que foi ontem que estragaste tanta, tanta coisa com essa ideia maluca de marcar o teu território. E parece que foi ontem que te perdoei isso tudo. Arranjei sempre uma desculpa para o teu comportamento.
Parece que foi ontem que te vi tão contente quando chegou o Caninas e o irmão.
Parece que foi ontem que olhei para ti enquanto fingias que mamavas na Suomi.
Parece que foi ontem que olhavas para mim enquanto eu chorava.
Parece que foi ontem que te peguei ao colo e dançámos os dois.
Parece que foi ontem que ficaste sentido por te ter abandonado às mãos dos veterinários do hospital de Faro.
Parece que foi ontem que rebolaste junto daquelas ervinhas que tanto gostavas.
Parece que foi ontem que te vi beber água daquela tua maneira peculiar.
Parece que foi ontem que me fizeste companhia no rebordo da banheira enquanto eu tomava banho.
Parece que foi ontem que pediste festas.
Parece que foi ontem que te levei a passear ao jardim e tu preferiste aninhar-te a mim no banco de jardim.
Parece que foi ontem que fiz tudo por tudo para te salvar. Para que continuasses junto de mim.
Parece que foi ontem que te dei um último beijo, te fiz o último carinho e que te vi pela última vez.
Mas continuas junto de mim.
Parece que foi ontem.